Thursday, August 10, 2006

Normal!

Hoje flagrei-me pensando sobre isto: afinal de contas, o que é normal? Procurei, assim que tive a chance, o verbete em meu dicionário de filosofia, e qual não foi minha surpresa ao não encontrá-lo. Como assim? Os grandes pensadores ao longo da história nunca questionaram-se sobre o normal/ a normalidade? Passado meu surto e já com a cabeça mais fria, entendi que o meu dicionário compacto de José Ferrater Mora - publicado “originalmente” em quatro grandes volumes – com certeza não possui, em suas 741 páginas, todos os verbetes constantes nas mais de 2000 páginas da publicação “original”.

Recorri, persistente que sou, ao nosso amigo Antônio Houaiss. E fiquei novamente assustado com a primeira definição da lista: “conforme a norma, a regra; regular” (esta última palavra, aliás, repete-se bastante nas outras acepções). É, de certo modo, evidente que existe uma relação entre as palavras norma e normal, pois suas etimologias são coincidentes. Suas origens estão no latim nórma e normális, respectivamente. O primeiro termo latino designa ‘esquadro, regra, norma, modelo, padrão’ e o segundo ‘feito, tirado a esquadria’. Ou seja, basicamente a norma é a causa, o objeto; e normal, a conseqüência, o resultado. São termos quase que matemáticos, o que prova que a regra (ou norma) é extremamente exata: ela generaliza, iguala. Seu objetivo é equacionar, mas muitas vezes acaba exponenciando matérias desnecessariamente. Houaiss diz-nos ainda que normal é usada para qualificar pessoas de ‘comportamento considerado aceitável, comum’. Em outras palavras, está dentro da normalidade aquela pessoa que comporta-se de acordo com o padrão.

Mas qual padrão? A sociedade em que vivemos possui muitos. Regras e seres humanos, se formos pensar severa e literalmente, não combinam. Somos indivíduos (do latim individùus: indivisível, uno, que não foi separado), cada qual com seus pensamentos e emoções próprios, e generalizações não se aplicam a nós. Entretanto, coletividade – sociedade – é o nome que damos à situação em que vários seres humanos têm uma vida comum. Aí volta-se ao ponto de partida: o padrão é a própria condição humana: a condição da individualidade, da unicidade. As normas devem, portanto, reger a convivência de modo que respeitemo-nos dentro do que somos: cada um com seus conceitos, suas aspirações, suas vontades, seus desejos, seus amores, seus sabores. O outro é o que é, e não o que gostaríamos que fosse.

Declaro, então, solenemente, a primeira e principal regra da normalidade (e também a menos seguida): o respeito. É ele que nos unifica, que nos identifica, que nos liberta. É nele que nos tornamos cada vez mais humanos.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

já está deliberando regras por aqui?
hehehe
Muito interessante, essa coisa de normalidade quando discutida sempre me irrita, principalmente quando a palavra natural entra no assunto.
cya.

Friday, August 18, 2006 2:21:00 PM  
Anonymous Anonymous said...

quero uma atualização!

Sunday, August 20, 2006 9:15:00 AM  

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